Pular para o conteúdo

O fim do mundo

Quando você ouve falar disso, o que imagina? Que mundo finda?

O planeta rachando, secando? A destruição da vida? A extinção humana? Um evento cósmico? Ira divina?

O colapso da civilização moderna? Da sociedade constituída sobre as ruínas do império Romano? De um conjunto de crenças e motivações que acompanharam todos os seres humanos que viveram nos últimos 2 mil anos e que moldaram a sociedade de hoje?

São coisas bem diferentes.

A primeira opção tem um caráter mais bíblico, contendo a ideia de que haveria um julgamento da humanidade, a partir do qual o mundo atual deixaria de existir. Quem sabe para permitir a uns poucos o renascimento em melhores condições…

A segunda alternativa, a do colapso civilizatório, é mais rotineira e, praticamente, faz parte da história de toda e qualquer civilização humana. Até agora somos a única civilização que não caiu. Também somos a última, a atual. Uma civilização poderosa, a maior das conhecidas, num estágio de amalgamar trajetórias civilizatórias do planeta inteiro. Dá a impressão de que não cairemos. Ou não?

Essa segunda opção não é só desespero, traz embutida uma esperança.

Existem certas mudanças que se tornam maduras com o tempo, resultado das experiências vividas durante séculos de desenvolvimento de uma cultura, e que no período de decadência sobressaem. Essas mudanças, porém, são nas bases da civilização. O que impede que sejam experimentadas largamente dentro da cultura vigente. São gestadas em grupos minoritários e constituirão a base do renascimento. Após o colapso.

Como se trata de uma civilização verdadeiramente global, essa experiência será vivida por toda a humanidade, como um impacto só. Isso nunca aconteceu.

Embora, no fundo, não haja uma grande contradição entre essas duas visões de fim.
Porque a memória do que aconteceu há muito tempo tende a ser mitológica e, até mesmo, religiosa. Ou seja, colapsos históricos podem ser muito bem lembrados como resultado de um julgamento das forças superiores.

Contudo, olhando bem de perto, não é justamente isso o que acontece? Hoje, todo o mal que fazemos ao planeta, à natureza de onde saímos, não trará consequências? Não estamos lidando com forças colossais, que despertam contra nós por tudo o que fizemos? A causa e efeito. Você faz ideia do que aconteceria ao nosso mundo se a temperatura média do planeta subisse alguns poucos graus? Se a composição de gases da atmosfera mudasse? Isso está acontecendo! Se balançar um pouco, todo o castelo de cartas que construímos não se sustenta. É bastante frágil.

Com esses argumentos quero afirmar que a discussão entre esses temas, na realidade, mascara a escolha que está diante de cada um de nós. Que resposta daremos às demandas do planeta e do nosso espírito? As pessoas estão sim, fazendo essas escolhas agora. Com o seu fazer, não com as palavras. As palavras geram discursos. O fazer constrói o mundo. Podemos ser adeptos de um sistema religioso, político, e ter um pensamento agudo, palavras certeiras, mas se nosso fazer diário não corresponder a tudo isso, o mundo que construímos é esse, o do nosso trabalho, não o que está no nosso discurso e bandeiras. Nosso voto no futuro está em todas as grandes e pequenas escolhas que fazemos. Mesmo que fôssemos mudos. Mesmo que não disséssemos uma única palavra.

Não há inação. Nunca há inação.
Há sim, ação cega. Ação sem consciência.
Em contraponto à ação lúcida, atenta, desperta, consciente, íntegra.
Sem doutrinas.

Para compartilhar: